sábado, 19 de janeiro de 2013

Padre José de Anchieta


José de Anchieta nasceu no dia 19 de março de 1534, em San Cristobal de La Laguna, ilha de Tenerife, no arquipélago das Canárias. Era filho do fidalgo espanhol dom João Anchieta e de uma nativa da ilha, chamada Núncia Diaz Clavejo. Era o terceiro dos dez filhos do casal, e aprendeu com o pai a ler e escrever castelhano e noções de latim. Em 1548 foi para Coimbra, para estudar na Universidade, embora estivesse fraco e doente. Por causa de um acidente, tinha um defeito na espinha que o obrigava a andar curvado. No dia 17 de maio de 1553 ingressou na Companhia de Jesus. 

Por causa de sua dedicação aos estudos, sentiu sua saúde fragilizar-se, que fez com que seus superiores o aconselhassem a mudar seu ambiente de vida e clima, quando se mudou para Lisboa. Quando dom Duarte da Costa foi convidado para ser governador-geral do Brasil, chamou o irmão José de Anchieta e outros jesuítas para embarcarem em sua comitiva. 

José de Anchieta desembarcou na Bahia no dia 13 de junho de 1553, sendo recebido pelo provincial dos jesuítas do Brasil, o padre Manuel da Nóbrega. Foi encarregado de dar aulas de latim e português aos filhos dos nativos. Semanas depois embarcou para a capitania de São Vicente, com alguns companheiros, salvando-se por milagre de uma tempestade em alto-mar. 

Ao chegar a São Vicente, logo foi enviado para o planalto Piratininga, onde construiu o terceiro colégio regular do Brasil, em local escolhido pelo padre Manuel da Nóbrega, auxiliado pelo padre Manuel de Paiva e dos índios de Tibiriçá e Caiubi, sendo a construção uma humilde palhoça, onde no dia 25 de janeiro de 1554 foi celebrada uma missa. O local recebeu o nome de Colégio São Paulo, em homenagem ao dia da conversão do apóstolo Paulo. Nessa missa o irmão Anchieta serviu como coroinha. Esse colégio foi o marco inicial da atual cidade de São Paulo. 

Com a saúde restabelecida, Anchieta começou a ensinar aos indígenas, quase sozinho. Aprendeu a falar Tupi e escreveu dicionário, gramática e catecismo na língua nativa. Ele também compunha e copiava os cadernos de cada aluno. Além do ensino religioso, os padres jesuítas faziam móveis, cuidavam de agricultura, construíam cabanas, etc. 

No primeiro ano de funcionamento do colégio, das 130 pessoas que moravam na vila, apenas 36 foram batizadas. Regente do colégio, Anchieta também ensinava português e castelhano aos outros padres. Dedicado, atraía para a nova vila os nativos que moravam nas selvas e os que moravam na vizinha vila de Santo André da Borda do Campo. Entre tantas atividades, ainda compunha hinos, comédias e diálogos em Tupi para ensinar aos nativos. Também combatia os portugueses que escravizavam os índios e tomavam para si as mulheres e os filhos. 

Por causa das tentativas de escravização dos índios, surgiram muitos conflitos entre os portugueses, sendo o mais sério a “Confederação dos tamoios”, quando as tribos de São Vicente e Cabo Frio fizeram uma aliança com os franceses que invadiram o Rio de Janeiro, numa luta contra os portugueses. José de Anchieta e padre Manuel da Nóbrega intermediaram o conflito, tentando uma reconciliação entre os índios e os portugueses, quando entraram pelos sertões, enfrentando toda sorte de perigos, batizando índios, fazendo amigos com suas dóceis palavras, até que chegaram a Iperoig, no dia 4 de maio de 1563, uma aldeia indígena distante 25 léguas da vila de São Vicente. 

Durante as negociações os padres receberam os chefes de duas tribos indígenas atraídos pela fama de abnegação e bondade dos missionários. Dessas negociações, o irmão José de Anchieta foi feito refém dos tamoios, enquanto o padre Manuel da Nóbrega voltou para São Vicente para continuar as negociações de paz. 

Durante os quatro meses que ficou refém em Iperoig, Anchieta se dedicou à reflexão e escreveu nas areias da praia os mais de 5.000 versos latinos que compõem o “Poema à bem-aventurada Virgem Maria”, guardando-os na memória por não ter papel e tinta naquela ocasião. Quando o padre Manuel da Nóbrega voltou a Iperoig com a bem sucedida retomada de paz entre portugueses e tamoios, os dois missionários retornaram a São Vicente, e José de Anchieta pôde passar para o papel o poema feito nas areias da praia. 

Em seguida, o irmão missionário acompanhou o padre Manuel da Nóbrega na expedição de Estácio de Sá de São Vicente ao Rio de Janeiro, onde prestou grandes serviços numa região tomada pelos franceses. 

Voltou à Bahia em 1566, por ordem de Estácio de Sá, levando mensagem ao governador-geral, Mém de Sá, a respeito da guerra contra os franceses. Nessa ocasião recebeu sua ordenação sacerdotal das mãos do bispo dom Pero Leitão. Viajando novamente para o Rio de Janeiro, fundou, com o padre Manuel da Nóbrega, o Colégio dos Jesuítas e a Casa de Misericórdia; depois, voltou para Piratininga. 

De temperamento inquieto, Anchieta fez várias viagens pelo litoral brasileiro, visitando Olinda, Salvador, Rio de Janeiro, São Vicente e São Paulo. No ano 1569 foi nomeado reitor do Colégio de São Vicente e em 1577 viajou para Salvador, onde foi nomeado Provincial do Brasil. Em Pernambuco, Bahia e Espírito Santo fundou vários centros missionários. Em 1585, doente e cansado, pediu licença do cargo de Provincial, retirando-se para o colégio do Rio de Janeiro, onde pretendia terminar seus dias, mas foi chamado para ser Superior do Colégio de Vitória do Espírito Santo, onde passou dois anos. 

Definitivamente afastado de todas as funções, a seu pedido, retirou-se para a aldeia de Reritiba, no Espírito Santo, fundada por ele, onde viveu entre os índios que tanto amava, chegando a falecer naquele lugar, no dia 9 de junho de 1597. Seu corpo foi levado para ser sepultado na Capela de São Tiago, em Vitória, acompanhado por uma multidão de índios daquela região. Em 1611, seus restos mortais foram trasladados para a Bahia e enviadas relíquias para Roma, visando canonização.

Foi beatificado pelo Papa João Paulo II no dia 22 de junho de 1980. É considerado como o primeiro escritor brasileiro, fundador do teatro no Brasil e primeiro professor.

Obras:  
Poema da Bem-aventurada Virgem Maria (De Beata Virgine Dei Matre Maria), publicado em 1672. 
Contos, informações, fragmentos históricos e sermões, escritos entre 1554 e 1594 e publicados em 1933. 
Poesias, publicado em São Paulo em 1954. 
Autos: “Quando, no Espírito Santo, se recebeu uma relíquia das Onze Mil Virgens”; 
“Dia da Assunção”, quando levaram Sua imagem a Reritiba, talvez em 1579; “Na festa de São Lourenço”, 1583; “Na Vila de Vitória”, 1584 – 1586; “Na visitação de Santa Isabel”, 1595. 
“Arte da Gramática da língua mais usada na Costa do Brasil, 1595”. 
“Poemas dos feitos de Mém de Sá” (De gestes Medi de Saa), publicado no Rio, 1958.

Pensamentos de Anchieta:
*Não foi a lança do soldado que abriu o Coração sagrado de Cristo, o Redentor. Foi a misericórdia, o amor.
*Tu sabes como ungir esse corpo ferido: basta o pobre a teus pés soltar um gemido. Se em mim pousas, ó Mãe, tua vista tão mansa, basta; pois em teu rosto está toda a esperança. 
*Parto-me sem partir de Vós, ó mãe e Senhora, confiado em que nessa hora de a vida me despedir, me sereis visitadora.

Bibliografia: 
ENCICLOPÉDIA de Educação Moral, Cívica e Política. Vol. IV, págs. 372 a 374. São Paulo, Michalany, 1971.
ENCICLOPÉDIA brasileira Globo. Vol. I. Porto Alegre, Globo, 1974.  
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Literatura: história & texto–1, pág. 213. São Paulo, Saraiva, 1999.   
(Texto: Eliza Ribeiro - Taperoá - PB - Foto: internet)   

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